Histórico do movimento

Palavras de D. Zeno Hastenteufel (FOTO), Fundador do CLJ


____"Era início da década de sessenta e, em Porto Alegre havia uma grande Pastoral da Juventude (PJ). Era o período áureo da Ação Católica. É preciso recordar que a Ação Católica fora fundada na Europa ainda antes da 2a Guerra Mundial, baseada no método "VER, JULGAR E AGIR", e contemplava todos os segmentos da juventude. Assim, existia a JAC (Juventude Agrária Católica), a JEC (Juventude Estudantil Católica), a JOC (Juventude Operária Católica) e a JUC (Juventude Universitária Católica). Ficando nas cidades um pouco maiores, a JEC realmente movimentava muito a Juventude Estudantil. Por volta de 1962 e 1963,faziam concentrações de 15 a 20 mil jovens, com caminhadas e dias de encontro. Praticamente todos os colégios católicos tinham seus grandes núcleos de JEC. Até mesmo nos colégios públicos, como no Protásio Alves, Parobé e Inácio Montanha a JEC era expressiva, e havia grupos de JEC em cada turno e coordenação própria para cada escola.

____Veio a Revolução de 1964, muitos líderes da Ação Católica se manifestaram contra os ideais daquele movimento revolucionário e foram enquadrados nos assim chamados "subversivos", isto é, "perigosos" para o momento político que então se vivia. Grandes líderes, jovens e padres, começaram a ser perseguidos, aprisionados e, segundo denúncias, foram até torturados. É claro que todos os grupos da JEC, JOC e JUC começaram a se posicionar contra a Revolução. Com isto a perseguição se tornou sempre mais forte e a espiritualidade foi diminuindo. Os antigos retiros foram substituídos por dias de encontro, debate político, estudo da realidade brasileira e contestação ao Movimento Revolucionário. Por volta de 1968,com a edição do Ato Institucional n:5 (AI 5), a Ação Católica foi colocada na parede. Naqueles moldes ela não poderia continuar. Seria necessário transformar o espírito e voltar aos ideais originários.

____No Brasil, isto era impossível. Em outros países, como na Itália, na Espanha, na Argentina foi feita esta transformação e a Ação Católica sobreviveu. No Brasil, os próprios Bispos acabaram por desestimular uma Ação Católica que tinha se voltado para o plano político e estava numa atitude de ostensiva contestação. Os grupos JEC e JUC foram acabando. Tinham formado grandes lideranças e preparados bons católicos. Criou-se um momento triste para a Igreja: os jovens simplesmente sumiram das igrejas.

____Na Igreja São Pedro, de Porto Alegre existia um grupo de 60 crismandos. Era uma esperança para a Igreja. Preparamos bem os encontros de crisma. Os jovens estudavam as matérias, sabiam os textos, mas não havia forma de levá-los de volta à vivência cristã. Conheciam os conteúdos da fé, mas não eram capazes de transformá-los em vivência. Em maio daquele ano de 1973, junto com a Ir. Jocélia e com algumas jovens do Emaús, começamos a preparar um "retiro de crismandos". Colocamos algumas técnicas do Emaús, com músicas próprias, com monitores de grupo e a participação de um casal.

____Nos dias 14 e 15 de julho daquele ano de 1973, com 19 jovens, 8 monitores, a Ir. Jocélia e um casal nos dirigimos a Casa de Retiros da Medianeira para o "Retiro de Crismandos". Tínhamos alguns esquemas em uma pasta improvisada, um coordenador jovem, com vários bilhetes, mas sem um roteiro fixo e nem mesmo um horário claramente estabelecido. Tínhamos um objetivo claro: apresentar um Cristo capaz de fascinar os jovens e atraí-los para o seu caminho. Tudo correu normalmente. Mas os jovens queriam fazer novos retiros com esta mesma metodologia. Fizemos um trabalho em comunidades, com a pergunta: Como você chamaria esse Retiro? Entre muitas sugestões apareceu uma: CLJ - Curso de Liderança Juvenil. Posto no quadro, junto com outras sugestões, foi feita a votação. Não deu outra. Os jovens queriam logo fazer um segundo "retiro" destes, para os colegas da crisma que não tinham apostado no primeiro. Mas, foi então colocado, com muita clareza, que o segundo CLJ só seria feito em novembro, se até lá todo o grupo perseverasse. Foi uma beleza, todos os sábados estavam lá os 19, mais monitores, vindos do Emaús, o casal Raabe e Leda, mais a Ir. Jocélia.

____Com muito empenho, foi preparado o segundo CLJ, para os dias 13,14 e 15 de novembro de 1973. Já começaria na sexta-feira de noite. Já teríamos um livrinho de cantos, mais um casal, João e Célide Salvador, e iria um grupo maior. Após várias e demoradas reuniões, veio a data esperada. Quando encostou o ônibus, lá nos fundos da Igreja São Pedro, parecia início de uma revolução. Gente de todos os lados. Lá estavam os 55 jovens inscritos, com seus pais, familiares e um número incalculável de curiosos. Todos queriam ver o que estava acontecendo. Foi um curso fora-de-série. No domingo à noite, chegaram na São Pedro. Foi feito no salão paroquial. Estava lotado. Todos os familiares daqueles 55 jovens, os colegas do primeiro e muitos curiosos... E a continuidade foi melhor ainda. Muitos jovens já estavam de férias e começavam a vir a missas todos os dias. No domingo seguinte, nosso grupo estava assumindo a missa das 11 horas. Tornou-se em pouco tempo a missa mais cheia. Os alunos do colégio São Pedro e Santa Clara começaram a se interessar. Vieram aquelas férias e o grupo continuou perseverando. Com reuniões em Tramandaí, Capão e Atlântida. Não se perdeu ninguém. Todos voltaram em março, com mais entusiasmo ainda. Todos esperando o terceiro CLJ, logo marcado para abril. A fama se espalhou pela cidade.

____O Pe. Severino Brum, da Cidade Baixa, que há anos estava tentando uma pastoral para os jovens, com iniciativas espetaculares, ficou sabendo e queria participar do terceiro CLJ. Queria apenas observar e levar uns 20 jovens e um casal de tios, fizemos várias reuniões, seria preciso falar com os Bispos. Pe. Severino falou com o Dom Antônio e eu fui falar com o Cardeal, Dom Vicente Scherer. O nosso querido Cardeal ficou um pouco assustado. Já tinha ouvido falar nos "abraços e beijos", coisa nova na Igreja de Porto Alegre. Mas, no final ele me disse: "Pe. Zeno, continue com a minha bênção. Se este movimento vem de Deus, vai progredir e dele surgirão vocações para o sacerdócio e a vida religiosa; se não vem de Deus, em pouco tempo vamos acabar com isso antes que seja tarde". Após uma reunião com Dom Antônio, participando ainda o Pe. Severino, o casal José Carlos e Eunice Monteiro, Ir.Jocélia e três ou quatro jovens, o CLJ foi reconhecido como "Movimento Arquidiocesano", aberto para as paróquias que o quisessem implantar. O CLJ seria agora um movimento Diocesano. Era hora de organizar tudo, organizar o esquema geral do curso. Assim, o CLJ foi se firmando como "momento", enquanto curso de apenas três dias, e como "movimento", enquanto grupo fixo e estável que vai trabalhando como pastoral de jovens, onde sempre estava muito presente a grande fase de Paulo VI: "É preciso que o jovem seja apóstolo de jovens". Em pouco tempo, o CLJ foi se espalhando pelas Paróquias de Porto Alegre, depois foi para as dioceses do interior e hoje está espalhado por grande parte do Rio Grande do Sul e já recebendo pedidos para se implantar em outros Estados."
(depoimento dado ao Jornal Novo Mundo Jovem, por ocasião dos 20 anos do CLJ)



O CLJ MOVIMENTO

____O CLJ-Momento acontece no curso que inicia sexta-feira e termina no domingo, durante os quais os participantes debatem em comunidade a mensagem que lhes é dirigida.

____O CLJ-Movimento é a vida continuada dinamicamente em grupos paroquiais. É a vida em comunidade, assumida pelos que fizeram o curso e optaram pelo ideal proposto, após debater sua fundamentação.

____Somos um movimento de Igreja, constituído de jovens e adultos. Movimento que através de método próprio, busca criar comunidades jovens decididas a serem sinal evangelizador, especialmente sinal entre os jovens. Sinal nas famílias, nas comunidades eclesiais mais diversificadas, nos ambientes onde os jovens vivem e convivem. Sinal no meio do mundo. Movimento que, dentro desses objetivos, quer oferecer aos jovens condições para a realização de sua vocação pessoal.

____O curso é o momento, destinado a jovens de 14 a 18 anos inclusive, a partir do qual ingressam no Movimento aqueles que optaram. Desenvolve-se em três dias de palestras, debates, questionamentos, atos individuais e comunitários, que possibilitam o encontro do cursista consigo mesmo com Deus e com os outros. È orientado por jovens, adultos leigos e padres. Nenhuma descrição verbal pode oferecer uma imagem exata do curso. Para dimensioná-lo adequadamente é necessário vivê-lo.

____O objetivo é a reestruturação da vida de cada um e de todos, sobre o verdadeiro eixo que é Jesus Cristo ressuscitado, em seu mistério pascal. Integrar o jovem consciente e responsalvelmente na História da Salvação. Ajudar o jovem para que se projete como cristão na construção do mundo novo, do mundo de justiça e paz.

____Assim, podemos ter uma idéia do que foi o início deste movimento, que não criou raízes somente na Paróquia São Pedro, mas sim, com a graça de Deus, em outras dioceses além de Porto Alegre e Novo Hamburgo: Passo Fundo (fundado em 1984, levado por Dom Osvino Both), Frederico Westphalen, Vacaria(em 1992-3). O CLJ também passou por Carazinho, Sarandi, Erechim, Uruguaiana, Quaraí, Estrela, Bento Gonçalves, Santa Maria e, mais recentemente, em Tubarão-SC.

FINAL

____"Em nosso vicariato, já temos vários sacerdotes provenientes das filerias do CLJ e nos seminários temos ainda grandes esperanças de vocações, nascidas em nosso meio. Em cada diocese, o CLJ tem as suas características peculiares, de acordo com a realidade local. Mas, no essencial, o CLJ é o mesmo em todos os recantos deste Rio Grande, até mesmo nas suas dificuldades de adaptação à pastoral da juventude e às canções litúrgicas que as comunidades cantam. No entanto, o que foi assumido há mais de trinta anos, como o Hino do CLJ, se concretiza em toda parte: "Unidos estamos aqui, unidos queremos ficar... É bela a vida que se dá...é preciso que o mundo seja um pouco melhor, porque nele eu vivi e por ele tu passaste meu irmão". O certo é que o CLJ até hoje só nos deu alegrias e está implantado como uma grande esperança para a Igreja. É claro que há Padres e Bispos mais empolgados e outros menos empolgados com o CLJ, mas uma coisa é certa: "Nas paróquias onde está o CLJ lá atuam jovens e mais jovens".





_